Médica receita água para curar doenças
Lençóis d'água ricos em minérios escorrem pelas fontes de São Lourenço (MG) e ajudam a tratar rins e problemas no estômago. Pediatra e homeopata de São Loureço (MG) destacou o uso de águas minerais para tratar doenças. Veja a reportagem:
https://g1.globo.com/globoreporter/0,,MUL1234138-16619,00.html
Em tempo: o turismo baseado no uso terapêutico das águas minerais foi a principal razão do desenvolvimento socioeconômico das estâncias do Circuito das Águas de Minas Gerais: Caxambu, São Lourenço, Cambuquira e Lambari. Os parques das águas dessas cidades são as suas principais atrações turísticas, apresentando águas minerais com propriedades terapêuticas.
Crenoterapia
Crenoterapia das águas minerais
A crenoterapia é a parte da medicina que propõe o tratamento do homem pela ação terapêutica das águas minerais. É uma ciência que remonta à Antigüidade. Citações bibliográficas atribuem a origem da crenoterapia a Heródoto, e desde 1986 é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde - OMS.
Crenologia e hidroterapia
O texto que se segue foi extraído da monografia de conclusão do Curso de Especialização em Gestão Ambiental – Nisam - Faculdade de Saúde Pública da USP, entitulada "Gestão integrada: uma proposta para a exploração sustentável das águas minerais", apresentada por Blair de Moura Aquino, Marta Amélia de Oliveira Campos e Reynaldo Guedes Neto.
"O uso terapêutico das águas minerais: um potencial inexplorado, de relevância para a saúde pública.
As águas minerais devem ser consideradas como águas subterrâneas especiais, uma vez que, além de atender aos demais usos tradicionais, apresentam propriedades terapêuticas.
Segundo Martins e colaboradores (2002), o uso medicinal das águas minerais está entre as mais antigas práticas terapêuticas da humanidade.
Ao longo da história, essas águas consagraram-se pelo uso generalizado e provas clínicas milenares. Seus poderes terapêuticos foram constatados tanto pela medicina quanto pela veterinária, para os mais variados tipos de enfermidades em diversas partes do mundo, em diferentes épocas. Na mais remota antigüidade, as fontes se impuseram como uma manifestação sobrenatural. O fato hidromineral confundia-se, nessa época, com fenômenos religiosos. Deuses, ninfas e outros simbolismos foram os primeiros protetores das fontes, assim como os sacerdotes foram os primeiros hidrólogos. Na Grécia Antiga, Píndaro e Aristóteles proclamaram a virtude dos vapores emanados das fontes termais, enquanto Platão discutiu a origem das águas minerais. Já os romanos foram os primeiros a usar o mármore na construção das captações e ornamentação das termas. Heródoto, um dos maiores pensadores gregos, esboçou os princípios da crenoterapia (do grego "crenos" = fonte) (Martins e col., 2002, pág. 9).
De fato, para os gregos, Heracles era a divindade que exercia maior influência nas propriedades benéficas das águas, que purificavam a alma e eliminavam demônios ou "humores maléficos" (Franchimont e col., 1984). A difusão das práticas hidroterápicas revestia-se, inicialmente, de caráter místico (Valenzuela, 1968).
Há referências sobre o uso terapêutico das águas minerais na Bíblia, onde se lê que no tanque de Bethsaida, em Jerusalém, reuniam-se multidões de enfermos em busca da cura. Na Europa, antes da ocupação romana, os gauleses já utilizavam as fontes termais (Martins e col., 2002).
Durante a Idade Média, as Cruzadas reintroduziram na Europa, a partir do Oriente Médio, a prática dos banhos. A religião, já adaptada às peculiaridades culturais dos diversos povos, substituiu as divindades pagãs pelos santos e pelas santas da Igreja Católica, nos "lugares tutelares" das fontes, iniciando-se o tratamento termal de enfermos e feridos de guerra (Martins e col., 2002).
A documentação científica sobre o assunto surge em 1604, quando é promulgada a primeira legislação de águas minerais na França, sob a égide do reinado de Henrique IV. No século XVIII, a hidrologia se consolida com os resultados de um trabalho de mais de 2 mil observações realizadas em Baréges, por Teófilo de Bordeaux, e com várias publicações da Sociedade Real de Medicina da França (Martins e col., 2002). Ainda segundo esses últimos autores, "no período entre as duas Guerras Mundiais, com os milhares de curas de vítimas de guerra, o hábito das curas termais se espalha no seio da classe média. É quando, no estágio já avançado do capitalismo, se dá o nascimento da moderna indústria de águas engarrafadas" (pág. 9).
A crenoterapia, no Brasil, tem como seu marco a fundação, em 1848, da estância hidromineral de Caldas do Sul do Rio Cubatão, Santa Catarina, por D. Pedro II. No início do século XX, são publicados vários estudos sobre as águas minerais brasileiras, especialmente após 1930, com a criação do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM -, órgão ainda hoje responsável pela sua gestão. Em 1945, entra em vigor o Código de Águas Minerais, que define e classifica nossas águas minerais, regulamentando sua pesquisa, exploração, industrialização e comercialização.
Desde então, a indústria de águas minerais, especialmente a do engarrafamento, se consolidou no País. A prática da crenoterapia, ao contrário, tem sido deixada em segundo plano desde meados do século passado e necessita ser resgatada como prática de saúde pública. Nesse sentido, vale ressaltar as palavras do médico crenólogo Lysandro Cardoso Guimarães, em artigo datado de 1956 e publicado ("in memoriam") na sinopse do I Concurso Nacional de Monografias "O Poder Curativo das Águas Minerais" (Caxambu: Prefeitura Municipal de Caxambu, 1989):
"O uso dos banhos carbogasosos em Caxambu é relativamente recente, tal como sucede nas demais estâncias brasileiras que possuem águas carbogasosas naturais. Não obstante, é uma modalidade terapêutica aceita, estudada e muito difundida em outros países, especialmente na França, Alemanha e Itália, onde gozam de justa reputação científica. Entre nós, pouco conhecidos, não têm merecido por isso mesmo a atenção dos clínicos, quando escolhem um tratamento para os doentes portadores de uma síndrome hipertensiva ou perturbações cardiovasculares. Não dispondo nossas estâncias hidrominerais de elementos materiais necessários a um melhor estudo de suas águas, os médicos residentes têm dificuldades em produzir trabalhos que sirvam de guia, orientação e documentário, para que a classe médica em geral tome o necessário conhecimento do valor terapêutico de nossas águas, de um ponto de vista mais científico que empírico (....) não obstante, a riqueza hidromineromedicinal no Brasil é extraordinária. O Estado de Minas Gerais possui águas cujo valor terapêutico está à altura e mesmo supera as suas congêneres estrangeiras. É mister, porém, que sejam mais bem amparadas e cuidadas pelos Governos Estaduais e Federal, a fim de que se possa tirar o máximo de suas maravilhas naturais, preparando-as com requisitos necessários para esse fim" (pág. 77).
Em outro texto, não publicado, encontrado no acervo da Prefeitura Municipal de Caxambu, o mesmo autor declara: "A incredulidade da maioria dos médicos brasileiros tem sido a nossa maior barreira, em contraposição à credulidade popular que (....) tem sido o fator de estímulo ao desenvolvimento de nossas estâncias como cidades de cura. Nos países europeus, a classe médica é a vanguardeira desses estudos que constituem assunto de real interesse em todas as universidades. Nós, pelo contrário, somos caudatários remotos dessas conquistas e, por isso mesmo, não podemos apresentar trabalhos à altura das modernas descobertas científicas; contudo, essa carência de estudos e pesquisas só poderá ser sanada no dia em que os médicos brasileiros volverem seus olhos para esses problemas, apoiando e incentivando a crenologia como matéria médica, e não como uma vulgar panacéia ou mesmo "perfumaria", no dizer de um médico, acatado e conceituado professor da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, quando exercia temporariamente elevadas funções administrativas no Estado.
Segundo Sanches (1989), "as bases racionais da Hidroterapia, Crenologia e Balneoterapia devem ser claramente definidas, a fim de permitir um adequado entendimento de como estes métodos podem ser aplicados para o tratamento não específico de certas moléstias" (pág. 26). Ainda segundo a autora, a Hidrologia "constitui a parte das Ciências Naturais que estuda as águas em geral, suas propriedades, ocupando a Hidroterapia das aplicações externas da água sobre o corpo humano com finalidades terapêuticas" (pág. 26).
Ainda para a referida autora, a crenologia estuda a composição e as propriedades intrínsecas das águas minerais, "denominando-se sua aplicação, com finalidades terapêuticas, Crenoterapia ou Balneoterapia" (pág. 26)."
Águas minerais: um mercado estratégico em expansão
Com o surgimento da indústria e como conseqüência direta do modelo de civilização, o tradicional enfoque que caracterizava a água mineral, através de seu uso terapêutico, foi sendo substituído gradualmente pela sua comercialização em larga escala.
Os problemas de abastecimento e de poluição crescente dos mananciais superficiais e subterrâneos das grandes cidades e capitais, aliados ao novo uso da água mineral, consumida como bebida ou complemento alimentar, fizeram com que o mercado de águas minerais envasadas apresentasse grande expansão. Segundo Martins e col. (2002), somente na França a produção evoluiu de 300 milhões de litros em 1938 para 6 bilhões em 2000. Ainda segundo os referidos autores, no Brasil, a produção escalou de 72 milhões de litros em 1960 para 3,2 bilhões em 2000.
São Paulo é o maior produtor de água mineral engarrafada do Brasil, com cerca de 1.660.000.000 de litros (2001), e a Região Sudeste é responsável por cerca de 59% da produção nacional. Segundo dados da Abinam, de 2001 ("in" DNPM - "Sumário Mineral 2002"), o consumo "per capita" de água mineral engarrafada no Brasil era de 22 litros/ano, pouco expressivo quando comparado com os consumos da Itália (144 litros/ano), da Bélgica (128 litros/ano), da Alemanha (104 litros/ano), da Suíça (106 litros/ano), da França (94 litros/ano), da Espanha (96 litros/ano) e da Áustria (84 litros/ano).
A crenoterapia na região do Barreiro-MG
A crenoterapia com águas minerais e lamas sulfurosas iniciou-se na região do Barreiro, com sua descoberta. A história conta que, no início, o gado era atraído pelo sal que se depositava sobre as rochas, o que provocou a migração de fazendeiros para a região. Portanto, a exploração do Barreiro foi iniciada com a finalidade da medicina termal e somente bem mais tarde é que as águas foram envasadas.
Uma citação bibliográfica atribui os primeiros estudos científicos sobre a crenoterapia em Araxá ao Dr. Atilo Colombo, cuja vida profissional foi toda dedicada à pesquisa do imenso poder terapêutico da Estância do Barreiro (Feres, et alii, 1970).
Neste trabalho os médicos Jorge Feres e Tomassovich apresentam as características das águas sulfurosas (fonte Andrade Júnior) e das águas radiotivas (fonte D. Beja).
A fonte Andrade Júnior apresenta águas fortemente mineralizadas, carbonatadas, sulfatadas, radioativas, altamente alcalinas, com pH superior a 10 e cheiro e gosto de gás sulfídrico. Segundo os médicos acima citados, essa água funciona como modificadora e estimulante da mucosa gástrica e intestinal; estimulante do metabolismo em geral e das funções do fígado e do pâncreas, fluidificando a bílis e normalizando o suco gástrico. É também estimulante energética das funções da nutrição, favorecendo as oxidações orgânicas.
A água radioativa da fonte D. Beja é de sabor agradável, constituíndo-se da fonte mais radioativa do Brasil, suas águas foram classificadas como fracamente mineralizadas, bicarbonatadas cálcicas e magnesianas, hipotermal e ligeiramente ácida ao brotar na fonte. Suas propriedades medicinais permitem que ela atue como ativante do metabolismo, estimulante da assimilação diurética, sem irritar o epitélio renal, e descloretante, nas nefrites albuminúricas ou azotêmicas e na litiase fosfática.
Classificação quanto à composição química:
A classificação das águas minerais leva em conta o elemento predominante, podendo ter uma classificação mista as águas que apresentem mais de um elemento digno de nota, ou as que possuírem elementos raros como o iodo, o arsênio ou o lítio, por exemplo.
- Radíferas: quando apresentarem, em solução, elementos ou substâncias que a elas confiram radioatividade permanente;
- Alcalino-bicarbonatadas: quando apresentarem concentração de compostos alcalinos equivalentes a, no mínimo, 200 mg/litro de bicarbonato de sódio;
- Alcalino-terrosas: quando apresentarem, no mínimo, uma concentração de 120 mg/litro de carbonato de cálcio, podendo ser:
- Alcalino-terrosas cálcicas: quando apresentarem uma concentração mínima equivalente a 48 mg/litro de Ca++, sob a forma de bicarbonato de cálcio;
- Alcalino-terrosas magnesianas: quando apresentarem uma concentração mínima de 30 mg/litro de Mg++, sob a forma de bicarbonato de magnésio;
- Sulfatadas: as que apresentarem uma concentração mínima de 100 g/litro do ânion SO4, combinado com os cátions sódio, potássio ou magnésio;
- Sulfurosas: as que apresentarem a concentração mínima de 1 mg/litro do ânion S (enxofre);
- Nitratadas: as que apresentarem uma concentração mínima de 100 mg/litro de ânion NO3 de origem mineral. Esta água deverá ter ação terapêutica aprovada pela Comissão Nacional de Crenologia;
- Ferruginosas: as que apresentarem concentração mínima de 5 mg/litro do cátion Fe (ferro);
- Radioativas: as que contiverem o gás radônio em solução, obedecendo aos seguintes limites, a 20ºC e 760mm de mercúrio de pressão:
- Fracamente radioativas: 5 a 10 unidades Mache;
- Radioativas: 10 a 50 unidades Mache;
- Fortemente radioativas: superior a 50 unidades Mache;
- Toriativas: as que possuírem um teor de torônio equivalente a 2 unidades Mache por litro;
- Carbogasosas: as que possuírem, por litro, 200ml de gás carbônico livre dissolvido, a 20ºC e 760mm de mercúrio de pressão;
- Oligominerais: quando, apesar de não atingirem os limites estabelecidos de concentração de sais, tiverem ação medicamentosa comprovada e aprovada pela Comissão Nacional de Crenologia.
b) Classificação quanto às fontes é realizada de acordo com os gases presentes na água mineral e quanto à temperatura, na fonte:
Quanto aos gases:
- Fracamente radioativas: as que apresentarem uma vazão gasosa de 1 litro por minuto com um teor de radônio de 5 a 10 unidades Mache;
- Radioativas: as que apresentarem uma vazão gasosa de 1 litro por minuto e um teor de Radônio de 10 a 50 unidades Mache;
- Fortemente radioativas: as que apresentarem uma vazão gasosa de 1 litro por minuto, com um teor de radônio de mais de 50 unidades Mache;
- Toriativas: as que apresentarem, no mínimo, uma vazão gasosa de 1 litro por minuto, com um teor de torônio equivalente a 2 unidades Mache;
- Sulfurosas: as que possuírem, na emergência, desprendimento definido de gás sulfídrico;
- Carbogasosas: as que contiverem, por litro, 200 ml de gás carbônico livre dissolvido, a 20º C e 760 mmHg de pressão.
Quanto à temperatura:
- Fontes Frias: quando sua temperatura for inferior a 25ºC;
- Fontes Hipotermais: quando sua temperatura estiver entre 25 e 33ºC;
- Fontes Mesotermais: quando sua temperatura estiver entre 33 e 36ºC;
- Fontes Isotermais: quando sua temperatura estiver entre 36 e 38ºC;
- Fontes Hipertermais: quando sua temperatura for superior a 38ºC.
Nelson Seninha
"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos."
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